terça-feira, 20 de novembro de 2012

Axé e coragem: As mulheres construindo a consciência negra

Por Amanda Jaqueline*

A escolha do dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi em 1695, como Dia da 
Consciência Negra, se deve ao Movimento Negro. Significamos o mês de novembro com a Consciência Negra, o reconhecimento de nossas origens étnicas e culturais, sobretudo o orgulho de ser negro e negra, como também a valorização da cultura africana incorporada à cultura afro-brasileira.
É mês também de considerar que “o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra, e todas devem ser combatidas”, como disse o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
O Dia Nacional da Consciência Negra, tornou-se oficial a partir da lei federal nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que inseriu o 20 de novembro ao Calendário escolar, como dia a ser lembrado, comemorado e desenvolvido em todas as instituições de Educação Básica. Outrossim, podemos celebrar a qualquer época do ano, uma vez que a lei 11.645, de 10 de março de 2008, que altera a lei de 2003, estabelece a obrigatoriedade do Ensino da História e da Cultura Afro Brasileira e Indígena no currículo oficial em todas as redes de Ensino Básico.
Infelizmente, precisamos da força da lei para conhecermos melhor o legado africano e a História do Brasil.
O mês de novembro serve também para relembrar inúmeros negros e negros que desafiaram o poder e a sociedade, organizando, transformando e mostrando que um outro planeta é possível, sem exploração, sem racismo, mais justo e sustentável, com igaldade de gênero/etnia e classe.
Neste mês de novembro, quero dedicar linhas a mais, àquelas que sofrem historicamente o acumular das opressões; as mulheres negras.
Destacar o papel da mulher negra e da mulher indígena na formação histórica e cultural da sociedade brasileira, ocultadas pela História oficial branca, masculina e eurocêntrica, muitas vezes preconceituosa e excludente é tarefa que contribui nos avanços da nossa reflexão, estabelecendo um duplo ousar: A ousadia em superar o racismo, mas também, a ousadia em superar o machismo racista e o racismo machista.
São elas (negras e indígenas) nos primeiros séculos do Brasil, são elas abolindo o Império, escravizadas, supostamente libertas, mas sempre exploradas, oprimidas e excluídas. No dizer de Angela Gillian: “No Brasil e na América Latina, a violação colonial perpetrada pelos senhores brancos, contra as mulheres negras e indígenas e a miscigenação daí resultante, está na origem do mito da democracia racial e de todas as construções de nossa identidade nacional. A desigualdade entre homens e mulheres é erotizada, a violência sexual contra as mulheres negras foi convertida em um romance”. Digo que tratar a questão como folclore é muito cômodo e mais fácil.
Assim as discussões sobre a temática, tem grandes proporções, Conferências Internacionais, debates intensos, Declarações Oficiais da América Latina, Caribe, EUA e outros países, sobre as questões de gênero e seus desdobramentos.
Infelizmente, sabemos que a Pobreza tem sexo e cor e que a luta das mulheres negras tem o viés de gênero, etnia e classe social. Portanto enegrecer o feminismo, significa colocar na agenda do movimento de negros e negras o peso que os problemas raciais somados ao sexismo, trazem em suas especificidades, como por exemplo, as políticas públicas de saúde da população negra. As negras são ainda as que mais morrem por eclampsia e abortos mal feitos além do câncer uterino, diabetes, hipertensão, etc. Enegrecer o feminismo significa colocar na agenda do movimento de mulheres o racismo.
Embora as conquistas efetivadas, ao longo de décadas de lutas, o fosso da desigualdade ainda é grande, em virtude da História de exclusão de 500 anos. Ainda hoje, as mulheres negras encontram-se na pior posição, com menores taxas de escolaridade, emprego, renda, saúde, expectativa de vida. E a maioria se encontra em regiões de violência urbana no país.
O mês de novembro lembra também que mulheres negras contribuíram desde o Quilombo de Palmares, na construção de uma sociedade justa e mais humana.
Por isso é que seus passos vêm de longe, resistindo à teoria do branqueamento, nas irmandades, nos candomblés, nos terreiros, nas ruas como quituteiras, nas Conferências Internacionais, nos fóruns de debates e agendas de diversas atividades no país e no exterior.
O mês de novembro é mais um momento de luta para marcar a resistência e as conquistas de todas as mulheres e homens, negras e negros, por um mundo de justiça e paz.

*Amanda Jaqueline é militante da Democracia Socialista.

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