sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quilombo dos Palmares


Hoje, o Mito da Democracia Racial é desmentido pela verdade fria dos dados, que revela a desigualdade econômica, educacional e social entre brancos e negros no Brasil. Nesse contexto, o simbolismo de Zumbi e do Dia da Consciência Negra representam uma arma poderosa na luta dos negros pelas suas reivindicações.

Mais amplamente, a lição de Zumbi deve servir a todos os brasileiros de qualquer raça de cor, para superar a desigualdade, as injustiças que ainda marcam nossa sociedade, para que a utopia de Palmares se transforme numa história real e de final feliz.



Debate ocorrido na TVE Brasil

Em 1983, um diretor iria contar mil séculos da saga de Palmares. Um reduto de liberdade que resistiu durante quase 100 anos a mais de 30 de expedições holandesas e portuguesas. Quando terminou a montagem de "Quilombo", Cacá Diegues declarou: " A obrigação do historiador é tentar contar como foi que as coisas se passavam. A nossa, como artista, é contar como é que as coisas poderiam ou deviam ter se passado."

Desde o início da escravidão no Brasil, o negro resistiu, seja por sabotagens, ataques e assassinatos à feitores e proprietários, as razões mais fortes como as insurreições, geralmente tinham como objetivo a fuga, a fuga para um quilombos. Situado na Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas, o quilombo se espalhou em uma região muito acidentada, de difícil acesso. A fertilidade do solo e a liberdade permitiam produção agrícola mais variada. Cana-de-açúcar, arroz, feijão, fumo e milho, além da criação de animais, da caça e da pesca. Esse aspecto contrastava com a monocultura do açúcar, que dominava a paisagem da região. A produção excedente era comercializada com os habitantes das áreas próximas, na base do escambo. Assim, os quilombos podiam-se abastecer de artigos, como armas, munição e sal.

Com interesses em partes comuns, muitos vizinhos, homens brancos e mestiços, tinham boas relações com os palmerinos. Ainda mais, o quilombo sempre foi uma comunidade aberta. Lá viviam também índios, mamelucos, brancos e cafuzos. Todos mais ou menos marginais às sociedades dos escravos. No filme, uma delas é a prostituta Ana de Ferro.

Quanto à repartição dos frutos do trabalho, supõe-se que havia uma distribuição igualitária entre a massa e os palmerinos.

Pouco se sabe sobre a organização interna do Estado de Palmares. Alguns historiadores acreditam que ele tenha sido a recriação de um reinado africano no Brasil. O quilombo era formado em um conjunto de aldeias fortificadas (os mocambos). Cada uma era formada por um conselho formado por indivíduos que se destacaram na guerra contra os brancos.

O primitivo Rei conhecido, Ganga Zumba, chegou a ir ao Recife para assinar o acordo com o Governador da Capitania. Esse acordo obrigava os quilombolas a se retirarem para uma outra região, e devolverem à escravidão todos os nascidos fora de Palmares. Houve muita resistência ao pacto de paz, chegando à insurgência contra o rei. Aí apareceu Zumbi.

Zumbi, como líder dos revoltosos, a disputa degenerou numa guerra aberta vencida por Zumbi, simbolizada no filme por uma votação em que Ganga Zumba é derrotado.

Supõe-se que Zumbi nasceu em Palmares. Era casado, talvez com uma branca. Tinha filhos. Capturado pelos portugueses ainda criança, foi vendido e criado por um padre, até que fugiu para Palmares. Dele disse um contemporâneo português: "negro de singular valor, grande ânimo e constança rara. Sua indústria, juízo e fortaleza. Aos nossos serve de embaraço, aos seus, de exemplo.

No apogeu, Palmares chegou a ter uma população de aproximadamente 30 mil pessoas. Transformou-se num estado autônomo, que preocupou a Coroa Portuguesa, quase tanto como os invasores holandeses. Para resistir ao inimigo, Zumbi organizou uma espécie de ditadura de salvação pública, em que todos os esforços foram canalizados para a guerra.

Utilizando técnicas de guerrilha, evitavam ao máximo os combates diretos e prolongados, Zumbi chegou a impor uma derrota ao seu antagonista final, Domingos Jorge Velho.

Na última investida contra Palmares, formou-se um exército de mais ou menos nove mil homens. Tropa mais numerosa só se viu no Brasil Colonial nas lutas pela independência. No dia 06/02/1694, a capital de Palmares tinha acabado.

Soldados, segundo Jorge Velho, degolaram aos que puderam. A cabeça de Zumbi foi decepada, tal como a de Lampião e Antônio Conselheiro, espetada numa lança em Recife até se decompor. Segundo o Governador, assim se atemorizava os negros, que supersticiosamente o julgavam um imortal.

Para nós abrirmos este debate, com os Professores Aquino e Ivanir, nós vamos começar com uma questão:

Antônio Abujamra: - Professor Aquino. Por que a escravidão negra foi preferida, se havia tantos indígenas no Brasil?

Prof. Aquino: - Olha, a História do Brasil é uma história que ela tem que ser toda reescrita e, felizmente, tem sido reformulada de certas visões da chamada "História Oficial" estão sendo corrigidas. Uma das maiores mentira que se pregava é que o negro foi usado como mão-de-obra escrava porque ele era dócil, que ele aceitava, era o negro tipo "Pai João", enquanto que o índio resistia. O índio lutava e não aceitava perder sua liberdade e sua dignidade.

Na realidade, para entender isso melhor, tem que colocar todo o processo de colonização do Brasil como a própria chegada pelos portugueses aqui no nosso país, no contexto da Expansão Comercial e Marítima, que atendia aos interesses da burguesia européia. E a burguesia estava interessada em ganhar dinheiro, em acumular capital. E o tráfico de negros era uma atividade extremamente lucrativa. E isso envolvia o próprio interesse da Coroa Portuguesa.

Sabe-se, hoje, por exemplo, que o chamado Infante D. Henrique, já em 1540, tinha criado a Companhia dos Lagos para traficar escravos negros para Portugal. Então, a introdução do trabalho escravo aqui não foi nada mais do que um desenvolvimento dessa atividade que era patrocinada inclusive pela própria Coroa Portuguesa.

Prof. Ivanir: - A Igreja Católica teve um fator preponderante nessa história, na medida inclusive em que ela dava justificativa com relação à proteção da população indígena no Brasil, que era de seu interesse naquele momento da sua catequese, e de que tinha um discurso criado pela Igreja que "os negros não tinham alma".

Desde que o primeiro escravo botou os pés no Brasil, quer dizer, que veio para cá, é conhecida as lutas de resistência contra a escravidão no Brasil. E não é à toa que os quilombos é o maior exemplo do que houve dessa resistência e de não aceitar essa condição de escravo. E, tem que observar, porque, alguns justificam de que os próprios negros fizeram alguns deles como escravos já na África. É importante observar que, as lutas de guerras que existiam na África e que se tornavam os negros escravos de um outro grupo étnico era muito diferente dessa escravidão mercantilista que se instalou na chamada "Nova América".

Antônio Abujamra: - Como é que eles faziam esse comércio triangular entre a África, América e Europa?

Prof. Aquino: - A economia colonial brasileira só funcionava baseada na utilização do trabalho escravo. E o trabalho escravo representava, para o negro, a perda da liberdade - que é, talvez, uma das coisas mais importantes da vida de um homem - e a perda da dignidade. Tanto é que eles procuravam de tantas maneiras criar mecanismos para quebrar a sua identidade. A pessoa que já esteve preso, ou que a gente lê quem perdeu a liberdade sabe que o mecanismo de todo aquele que prende alguém é quebrar a dignidade, inclusive, dentro do contexto de época, a gente vê que, muitos dos negros que vieram para cá eram negros islamizados, era, monoteístas e, entretanto, eles apresentavam isso como válido também, como argumento para justificar a escravidão porque seria uma continuação da luta entre os cristãos e muçulmanos.

Prof. Ivanir: - A História brasileira sempre teve uma capacidade de negar qualquer forma, não só como uma resistência de organização e dignidade com relação à população negra. Vou dar um exemplo típico: quando você estuda a História Geral no Brasil, você estuda o Egito como um berço importante que, a partir da Grécia ter ido lá e que os romanos também, usurpado da cultura construiu uma boa parte da cultura da civilização européia. E você estuda também um dado importante toda a distância da realeza européia. Mas, se esquece de duas coisas, nunca é localizado o Egito como um país africano, isto é, está na África. Então, isso é a primeira coisa que você já tem para um menino que está na escola e não pensa o Egito como um país africano. Segunda questão fundamental é que a África já teve várias realezas importantes, não só o Egito mas o Reino de Daomé, um reino importante. A África sabia lidar com a cultura do ferro muito antes dos europeus aprenderem.

Uma das questões de dominação da população negra no Brasil é que o negro está ligado àquilo que é ruim. Negro está ligado à criminalidade, a ser vagabundo, quer dizer, não está ligado a questão de importância. Isso para a imagem da criança negra de favela ou na escola tem um dado fundamental. Você aprende que, tudo que é valor importante é o valor do branco.

Por isso, digo que esses reinos foram muito importantes. Você fala mutio pouco da importância dos mouros na Europa. A Europa tinha uma "raiva" dos mouros muito séria porque a Europa foi dominada por eles durante muito tempo. Os mouros eram um povo negróide também. Então isso é um dado fundamental que precisa ser considerado e que nos livros de História não pensam nisso.

Um outro dado fundamental importante na História é a Inconfidência Mineira (de onde falam que é Conjuração, mas que é Inconfidência Mineira) que não aconteceu, merece quatro páginas nos livros de História, enquanto que Palmares, que durou cem anos, merece quatro linhas.

Prof. Aquino: - Uma das coisas que mais tenho combatido é todos esses mitos que existem na História do Brasil tipo "democracia racial", que no Brasil não existe racismo, etc...

Antônio Abujamra: - Como é que se conseguiu, Prof. Ivanir, substituir o Treze de Maio pelo Vinte de Novembro, que é o aniversário da morte de Zumbi?

Prof. Ivanir: - Todos nó éramos contra o Treze de Maio. Primeiro, que não houve abolição. A abolição foi uma farsa no sentido de que aquele momento que se assinou a Lei Áurea somente 8% da população negra era escrava, isto é, já haviam escravos fugidos, escravos libertos, já tinham comprado sua alforria. E, devido às condições que foi feita a abolição, que não havia reforma agrária, não houve nenhuma forma de você inserir o negro na sociedade de forma digna, de não dar nenhuma vantagem social e econômica para essa população. Muito pelo contrário. Nós não tínhamos uma data que nos dignificasse. E daí, a data, justamente da morte de Zumbi dos Palmares, quando ele é assassinado, que é o Vinte de Novembro, tornou-se uma data que nós denominamos como o Dia Nacional da Consciência Negra.

Naquela época, eu lembro, nós éramos uma meia dúzia de gatos pingados, que no Brasil todo nós fazíamos atividades nas praças públicas justamente no dia Treze de Maio era o Dia Nacional do Protesto sobre as condições raciais e no dia Vinte de Novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra. Isso foi ganhando corpo, de uma certa forma. O movimento negro foi crescendo em vários estados, como na Bahia, São Paulo e Pernambuco. Fortalecendo essa data, os historiadores passam a chamar a atenção para a História de Palmares, como Décio Freitas (que fez uma pesquisa enorme sobre Palmares). Palmares começa a ganhar um certo corpo na sociedade, junto a alguns historiadores de esquerda e alguns militantes. Isso ganha uma força considerável que hoje você tem um Estado brasileiro rendido a uma data que é construída pela militância negra no país. Não é que todo o mundo fala que o movimento negro é intransigente, que é chato, enfim, ele construiu essa data.

Antônio Abujamra: - Em que sentido Palmares poderia ter sido a criação de um estado africano no Brasil?

Prof. Ivanir: - Acho que Palmares não foi só isso. Palmares foi, antes de tudo, uma sociedade alternativa muito antes do que a Revolução de 1917. Para a esquerda brasileira, para a esquerda mundial, a Revolução Russa foi importante no ponto de vista de marcar uma construção de uma sociedade igualitária. Palmares, muito antes disso, pela extensão territorial que ela teve, além de agrupar negros, brancos pobres e índios. E todos tinham a terra. A terra não era monopólio de ninguém, não era um bem privado de nenhum grupo. Era um bem coletivo e toda a produção de Palmares era distribuída por todos e tinham uma organização de vital importância.

Na própria África, em um dado momento, a terra não era propriedade privada. Era propriedade coletiva. A noção de família na África era, inclusive, uma noção que não era só dos filhos, porém uma noção social muito maior. Se você vê o cadomblé, hoje, a História como o cadomblé remonta a estrutura familiar do pai-de-santo, da mãe ialorixá, com suas juras dos santos, com os ogans e tal, é uma estrutura de uma organização. Então Palmares, muito antes da Revolução russa e das teorias de esquerda, foi uma sociedade muito importante para nós. Tanto é que, muitas condições de Palmares vai ser dita e vai ser descoberta ainda. Está se começando agora a descobrir essa sociedade que foi alternativa o que colocou em risco naquela época para o Estado Colonial porque a interferia na própria economia colonial nesse período.

Prof. Aquino: - A luta de Palmares era a luta pela liberdade e pela dignidade. Pela construção de um modelo de sociedade que representava a negação de tudo que existia no Brasil daquela época. Enquanto que, no Brasil, a economia era voltada para a exportação que, inclusive, faltava até alimentos para os mais abastados, em Palmares havia uma policultura. Quer dizer: havia liberdade, havia uma igualdade, havia uma idéia de propriedade coletiva, como o Ivanir está lembrando. E aqui o Sistema Colonial estava consagrando a propriedade privada nas mãos de uma minoria. Estavam lançando as bases de tudo que existe hoje no Brasil: a concentração de riqueza cada vez maior nas mãos de poucos, enquanto que a maioria era marginalizada.

Prof. Ivanir: - Essa questão de Palmares hoje, de Zumbi, vai colocar em choque duas questões importantes: veja bem. Por um lado vai estar em julgamento pela História e pela sociedade os heróis paulistas, isto é, os bandeirantes que foram os assassinos de Zumbi. Por um lado Zumbi, que seria uma sociedade alternativa. Você vê que, nesse exato momento, a história coloca esses dois termos de julgamento. Você vai à São Paulo e encontra o Monumento dos Bandeirantes, que foram justamente quem ensaia como mercenários pagos para destruir Palmares é quem assassina Zumbi. Dizer que, enquanto houvesse um negro escravo, Palmares também não seria liberto. Era uma questão estratégica.

Uma Segunda questão que eu acho fundamental: Zumbi, na História do Brasil, foi o general que mais vitórias teve. Nenhum General na História brasileira teve tantas vitórias quanto Zumbi dos Palmares. Mas, no entanto, ele só é conhecido pela única derrota que teve, que foi quando justamente Palmares cai e ele é assassinado. Mas, antes disso, várias expedições foram mandadas para Palmares, e várias delas foram derrotadas militarmente por Zumbi.

Hoje, o que é reviver para nós é esse exemplo de dignidade e de luta. Não foi uma pessoa que aceitou um acordo mínimo para ter benefício próprio e não entregou seu povo. Ele morreu em defesa de seu próprio povo. E hoje é isso que o movimento negro faz: muita gente acha que é intransigente, é sectário. Não é sectário, nem intransigente. O que ele diz é o seguinte: não adianta você criar uma pequena classe média negra que teve alguns benefícios numa sociedade de consumo, se você não levar em conta que, nas periferias e nas favelas, vários jovens negros acabam não tendo nenhuma perspectiva na sociedade, a não ser o tráfico de drogas. Então, isso é que é sério, hoje. E é isso que mantém uma imagem muito importante para essa militância negra jovem que está surgindo nesse momento. Como a gente costuma dizer: sangue de Zumbi tem poder.

Sendo o Brasil um dos piores índices sociais do mundo, quem é a principal vítima dessa injustiça. É a população negra e mestiça. Tem até brancos pobres no meio, mas, no fundo, é a população negra e mestiça. Quando um jovem negro de 18 anos não consegue se escolarizar. Se essa política de saúde e de educação não chega até ele, então é muito mais do que dizer que tratar com dignidade, tem que criar políticas que resgate essa população.

Se você entra num ônibus, como eu entro, eu e você, a polícia chega lá, ele se dirige a mim primeiro, como se fosse suspeito. É lógico que não se trata com dignidade. E isso mostra, muito mais do que os discursos políticos, a situação pública.

Antônio Abujamra: - A comunidade negra vai assistir "Quilombo". Vai assistir filme sobre os negros?

Prof. Ivanir: - Primeiro, nós fomos assistir "Quilombo" em uma avant-première só para a militância negra. Acabamos de passar agora em cima do Tricentário lá em Madureira "Natal da Portela". Porque Natal tem um papel cultural importante, inclusive como negro. Observa que, naquela época, os negros, até no jogo de bicho, dominavam e se até não dominam mais porque os brancos, à medida em que todo esse rendimento que passa sendo lucrativo, como o samba e tal... foi substituído por um setor branco.

A questão central é a seguinte: será que é produzido no Brasil filmes para a problemática negra, como é nos EUA? Isso é a grande questão: será que é produzido peças negras para que no fundo você consiga um teatro? E não só como temas históricos, que também é importante. No Brasil, tem uma hipocrisia em dizer que não tem racismo. Se não tem racismo, o racismo não vira um tema importante, não só para o debate político e o debate cultural, mas, também para ser tratado em peças. Raramente existe uma peça moderna que trata da problemática negra no Brasil.

Antônio Abujamra: - Se perdesse a importância das coisas, o que é que aconteceria?

Prof. Ivanir: - Para nós, só não é importante alguma coisa para alguém que já tenha essa importância. Para quem não tem vai sempre dizer que tem que ter. Eu dou um exemplo: algumas etnias não precisam disso. Os judeus, por exemplo, tem várias produções culturais com peças e atores judeus. Tem estímulo da sua comunidade, de uma forma geral.

Antônio Abujamra: - Mas eles se acham também perseguidos?

Prof. Ivanir: - Sim. Mas eles tem também uma forma de organização e apoio econômico para poder tratar da sua problemática. Você vê que toda essa questão do holocausto, não tem mais produção de incentivo como eles trabalham isso na memória do mundo todo, em relação à sua problemática. Na questão negra você não tem isso.

Antônio Abujamra: - Voltando ao Prof. Aquino. Professor, por que é que Palmares representava um perigo tão grande para a classe dominante comercial e para a Coroa Portuguesa? Por que eles se assustavam tanto?

Prof. Aquino: - Por que Palmares, como qualquer movimento que vem de baixo para cima, é uma ameaça para as classes dirigentes. Isso a gente vê em toda a História do Brasil. Você vê quando começou, pr exemplo, o filme focalizando Palmares, começaram com Ganga Zumba, que representava aquilo que é uma constante na História do Brasil. O processo de conciliação entre os grupos dirigentes. Ganga Zumba, como o Ivanir falou, fez um acordo em que a liberdade era assegurada apenas aos negros nascidos em Palmares. Os outros retornariam à condição de escravos. Enquanto que Zumbi não aceitou isso. Ele próprio seria beneficiado porque ele nasceu em Palmares.

E a gente vê que, durante muito tempo, os livros didáticos e o próprio filme, de certa forma, ele não segue a História Oficial. Como é que a História Oficial apresentava a morte de Zumbi? Se jogando de um penhasco. E isso não é verdade. Porque, na realidade, documentos de época mostram que o cadáver de Zumbi foi levado para Recife, com o corpo cheio de balas, cheio de furos de arma branca. Foi castrado, enfiaram o pênis dele na boca e fizeram o que sempre fizeram no Brasil: a violência das elites dirigentes contra todos aqueles que contestavam a ordem instituída.

A nossa História é uma História que foi feita apenas sob a mão das elites. Tem que ser a História também dos vencidos em que, os movimentos sociais, de contestação à ordem estabelecida, sejam apresentados com suas verdadeiras perspectivas. Por que é que a História é uma História sempre das elites? Se estuda, no máximo, até Getúlio e não se estuda o que está acontecendo hoje. Quer dizer, a própria visão de Palmares é uma visão clara de tudo isso que vem sendo resgatado. Em 1988 saiu uma infinidade de livros sobre a escravidão, e isso precisa continuar a ser feito. A gente tem que partir de uma História local para construir uma verdadeira História nacional, não mais dentro da visão das elites, que tem dominado e deixado o país na situação em que está hoje.

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