Mostrando postagens com marcador Economia Solidaria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Economia Solidaria. Mostrar todas as postagens

Economia Solidária: uma estratégia de construção do socialismo


1. A economia solidária cresceu no Brasil e na América Latina em meio à resistência da classe trabalhadora a implementação do projeto neoliberal durante o final da década de 80 e, especialmente, durante os anos 90, período em que eram hegemônicos os governos alinhados com o neoliberalismo na América Latina.

2. Diante do fechamento de fábricas, do crescimento das demissões, do empobrecimento no campo e na cidade, da flexibilização trabalhista e da diminuição do Estado, resultantes das políticas neoliberais, trabalhadoras e trabalhadores se auto-organizaram e por meio da economia solidária construíram saídas coletivas para estas situações.

3. Sob o manto da economia solidária, fábricas foram recuperadas pelos/as trabalhadores/as, cooperativas populares foram constituídas como alternativa de geração de trabalho e renda, bancos comunitários e fundos rotativos solidários ampliaram a oferta de crédito popular e o tema desenvolvimento local sustentável solidário ampliou seu espaço na pauta das organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Considerando que essa situação atinge de forma diferenciada homens e mulheres, tendo em vista que com políticas neoliberais e a redução do estado sobram para as mulheres o cuidado com a saúde, educação e toda a sustentabilidade da vida humana.

4. No campo das políticas públicas, a economia solidária surgiu como resposta à crise social, ganhou espaço em governos democráticos e populares durante a década de 90 e início dos 2000 e assumiu status de política nacional com a chegada do PT no Governo Federal.

5. Mais do que instrumento de combate a pobreza ou de geração de trabalho e renda, estas políticas tem cumprido importante papel no fortalecimento da organização econômica e social e na elevação da consciência de trabalhadores e trabalhadoras de diferentes regiões do país e também da América Latina.

6. A criação de políticas públicas de economia solidária no âmbito do Estado, que apóiam a auto-organização dos/as trabalhadores/as, representa a possibilidade de reequilibrar as condições de disputa de poder na sociedade, uma vez que o Estado foi o principal financiador do capital ao longo da história do Brasil.

7. A combinação entre políticas de democratização do Estado (orçamento participativo, conselhos, referendos, plebiscitos e espaços de participação direta dos cidadãos) e de democratização da economia (apoio estatal a organização coletiva do trabalho, preferência nas compras públicas para empreendimentos coletivos, ampliação do microcrédito, dos bancos comunitários, apoio a inovação tecnológica nestes empreendimentos etc.) é fundamental para a construção de uma América Latina soberana, justa, solidária e socialista.

8. Brasil, Venezuela, Colômbia, Chile, Uruguai, Argentina, Republica Dominicana, Equador, Peru e Bolívia já tem políticas públicas que reconhecem e apóiam a organização dos/as trabalhadores/as em empreendimentos econômicos solidários.

9. Este ambiente tem possibilitado uma maior integração dos/as militantes e trabalhadores/as da economia solidária na América Latina, o que permite construir pautas de luta comuns e fortalecer a organização de empreendimentos econômicos solidários nesta região.

10. No Brasil e em muitos países da América Latina a economia solidária vem se mostrando uma alternativa real de ampliação da participação dos/as trabalhadores/as na economia, trazendo a possibilidade de aproximar setores da classe trabalhadora que se encontram na chamada "economia formal" com a multidão de trabalhadores/as que se encontram na "economia informal". O acumulo da economia feminista e abordagem da divisão sexual do trabalho, que tem evidenciado o trabalho doméstico e do cuidado como parte determinante e mantenedora de mão de obra e do bem viver e a consciência de necessidade de socialização do trabalho do cuidado com os homens e a sociedade como passos firmes rumo a superação do capitalismo.

11. Esta aproximação é fundamental para construção da unidade dos/as trabalhadores/as entorno de um projeto socialista que se apresente como saída para a crise internacional.

12. Esta crise trouxe de volta a cena políticas Keynesianistas, recolocando com força em debate o papel do Estado na condução de setores estratégicos da economia, bem como a sua função de regulação da economia e do mercado. Nesse contexto, abre-se espaço para uma ação mais ofensiva do Estado no sentido de ampliar a participação dos/as trabalhadores/as auto-organizados/as em empreendimentos econômicos solidários na economia do país.

13. Um outro elemento reforçado pela crise internacional é a compreensão de que embora seja fundamental a disputa e a conquista do Estado para a construção do socialismo, somente isso não é suficiente. Faz-se necessário também, além do fortalecimento das organizações sociais, a ampliação da participação dos/as trabalhadores/as na economia.

14. Só para exemplificar, em meio a crise, enquanto as empresas capitalistas demitem, mesmo contando com subsídios do Estado, as empresas geridas pelos/as trabalhadores/as no Brasil constroem coletivamente com seus trabalhadores/as soluções que permitem assegurar o trabalho de todos/as nos seus empreendimentos.

15. O Governo do Brasil tem inovado no enfrentamento a crise, protagonizando medidas que demonstram à sociedade brasileira o real papel que deve ser cumprido pelo Estado na organização e fortalecimento da economia de um país.

16. Estas medidas, que se sustentam principalmente na manutenção dos investimentos para o melhoramento da infra-estrutura do país (PAC) e na ampliação e melhora das condições para o acesso ao crédito, tem sido fundamentais para que a nossa economia não desabe, a exemplo de outras economias emergentes ou aquelas dos países considerados do primeiro mundo.

17. Mas sem prejuízo destas políticas, acreditamos que o Estado pode ousar ainda mais, tomando medidas que ampliem a participação dos/as trabalhadores/as organizados/as coletivamente na economia, o que, a longo prazo, contribuiria para melhorar a distribuição de renda e a desconcentração do capital no país e possibilitaria que os trabalhadores/as exercitassem práticas que constroem uma cultura socialista.

18. Nesse sentido, entendemos que as políticas de economia solidária devem ser consideradas como estratégicas na atuação da esquerda socialista frente ao Estado, devendo ter espaço e recursos que a permitam consolidar-se como instrumento de apoio a democratização da economia, pela atuação dos trabalhadores auto-organizados.

19. Acreditamos também que a economia solidária deve ser incorporada como estratégia de organização econômica por outras lutas que compõe a pauta de construção do socialismo, a exemplo do que já ocorre hoje com experiências que integram feminismo e economia solidária, etno-desenvolvimento e economia solidária, tecnologias livres e economia solidária, cultura e economia solidária, dentre outras.

20. Por ultimo, vale destacar que entendemos que a economia solidária não resolverá as mazelas da sociedade a partir da sua atuação isolada e tampouco é capaz de, sozinha, ofertar a resistência e a ofensividade necessárias a superação do capitalismo.

21. Desta forma, para nós a economia solidária é um projeto socialista que fortalece e possibilita a prática da autogestão pelos trabalhadores e trabalhadoras na economia e no conjunto da sociedade, e por isso deve estar presente na construção e no debate partidário, bem como deve estar integrada a luta geral da classe trabalhadora na sociedade.

Extraído de http://economiasolidariaeagroenergiaparana.blogspot.com, Por Edson Leonardo Pilatti

Leia Mais

Etnodesenvolvimento Sustentado para Quilombos




As comunidades quilombolas sobreviveram as discriminações, as injustiças, a invisibilidade e ao total abandono do poder público ao longo da história, mantendo sua integridade cultural de origem étnica africana. Os quilombolas retiram, transformam, cultivam e produzem praticamente tudo o que necessitam no convívio harmônico com a natureza. Essa vida bucólica e harmoniosa, fez dessas comunidades, exemplos vivos de sustentabilidade ambiental, e a mais de um século, estão servindo de escudo protetor contra a expansão da agricultura e da pecuária, sobre amostras de biomas de relevante interesse preservacionista.

A vida destacada quilombola fez com que desenvolvessem e preservassem formas peculiares de produzir, viver e festejar, enraizados na ancestralidade, no chão natal, e na forma coletiva de pensar e agir. Seus bens materiais e imateriais são garantidos pela Constituição federal, não existindo possibilidade de existência quilombola sem o domínio do território, e plenitude cultural.

Como guardiões de parte do patrimônio histórico-cultural e ambiental do Brasil, eles tem direitos e merecem um modelo de desenvolvimento especial, que respeite a etnicidade, e que também seja ambientalmente sustentado, como mostra a historia da existência quilombola.

O etnodesenvolvimento de quilombos é um compromisso e também um grande desafio para o governo Lula. Ao contrario dos "Sem Terra", os quilombolas já possuem suas terras, mas necessitam de regularização, credito apoio técnico e mercado diferenciado, para ter assegurada a paz, a tranqüilidade e os meios para produzir e prosperar. O modelo de etnodesenvolvimento sustentado para os quilombolas, não pode ser confundido com o modelo de assentamento ou desenvolvimento convencional, já que implicam em novos paradigmas, demandas e compreensões. Muitos assentamentos de reforma agrária e ocupação de terra organizados pelos governos e por particulares no Centro Oeste e na Amazônia foram abandonados devidos aos fracassos financeiros e a destruição ambiental que produziram. Não temos o direito de preconizar processos que desprestigiem a cultura local e que levem riscos à sustentabilidade ambiental e à auto-suficiência destas comunidades. A forma de produzir quilombola é baseada na diversificação de atividades, buscando em primeiro plano o suprimento das necessidades de sobrevivência, e em segundo plano as trocas comerciais. A produção deve ser através da agro ecologia, contemplando em primeiro plano as atividades agro silvo pastoris que dão suporte ao consumo e as demais demandas locais. Os produtos com qualidade e selo "quilombola", devem ser dirigidos aos mercados que dão valor a sustentabilidade ambiental, a solidariedade social e a cultura negra.

Plano Nacional de Etnodesenvolvimento Sustentado

Antecedendo a formatação do plano nacional, será necessário realizar censo, inventario e diagnostico das comunidades, dimensionar e mapear a situação sócio econômica, a infra-estrutura existente, e as necessidades mais preeminentes para cada uma delas. Levantar potencialidades e vocações das regiões onde se localizam comunidades, aproveitando estudos e cartas de zoneamento econômico ecológico já existentes nos órgãos federais e estaduais. Prognosticar para curto, médio e longo prazo, as dimensões e potencialidades de mercado nas esferas nacional e internacional para os produtos e serviços com a marca "quilombola". Pesquisar e listar empresas atacadistas e varejistas, entidades culturais, ambientais, sindicais e de consumo propensas a firmação de parcerias e suporte comercial à marca "quilombola".

O Plano Nacional de Etnodesenvolvimento deve prever a instituição de: um fundo especial para promoção da marca "quilombola", realização de projetos e parcerias com ONGs, e um sistema unificado de fiscalização, controle técnico, financeiro e avaliação dos resultados referentes as parcerias, programas e projetos realizados ou em realização.

Programas Regionais de Etnodesenvolvimento Sustentado

As especificidades e afinidades referentes a clima, solo, recursos ambientais, vias de acesso, transporte, mercado e cultura, constituem os elementos básicos para a derivação do plano nacional em programas regionais de etnodesenvolvimento sustentado para os quilombos, composto em duas vertentes principais: infra-estrutura básica e inclusão econômica.

Infra-estrutura básica

Oacesso a água potável, saneamento e educação é condição primordial para o desenvolvimento, devendo receber atenção prioritária da ação governamental, viabilizando a democratização do abastecimento de água, a construção de banheiros de alvenaria, fossas sépticas, tratamento anaeróbico de efluentes, a separação, reciclagem e destinação adequada de lixo, e a construção de escolas em todas comunidades no prazo mais curto possível. As escolas de ensino básico devemafirmar os valores da cultura quilombola e do etnodesenvolvimento sustentável. A assistência a saúde deve ter especificidade étnica, com equipes múltiplas atuando nas comunidades, e com o suporte de postos, unidades básicas e ambulâncias. A perenidade das estradas vicinais, a instalação de telefones comunitários, a melhoria habitacional e o acesso a eletricidade são outros quesitos importantes da infra-estrutura.

Inclusão econômica

A vertente dos Programas Regionais voltado a inclusão econômica deve priorizar a capacitaçãoe animação dos quilombolas para, organização de cooperativas como base da organização empreendedora,a afirmação do conceito e valores do etnodesenvolvimento sustentável, e a organização e gestão de negócios. A criação de equipes técnicas de extensionistas rurais, treinadas para entender, considerar e responder as demandas conceituadas pelo etnodesenvolvimento sustentável, será fundamental para garantir o retorno dos investimentos financeiros investidos e a inclusão significativa dessas comunidades a vida econômica do país.

Plano Diretor do quilombo

Cada comunidade deve construir seu plano diretor, baseado na vocação e potencialidade de uso do solo e de outros recursos naturais sob seu domínio, dando prioridade para a preservação da hidrografia, sítios históricos, biodiversidade, equilíbrio ambiental e necessidades geradas pelos projetos locais de habitação, educação, lazer e geração de ocupação e renda. O plano diretor local ordena e reordena o uso e ocupação do solo, possibilitando o planejamento da expansão urbana com menores custos, mais facilidade e eficiência no abastecimento de água, tratamento condominial de esgotos, preservação e enriquecimento de áreas de potencial extrativista, aproveitamento e potencialização do patrimônio natural, histórico e etnocultural para desenvolvimento do turismo e o desenvolvimento das atividades agro silvo pastoris, artesanais e de transformação de produtos locais. Os projetos e planos de negocio em cada comunidade, devem estar sincronizados e harmonizados com o Programa Regional de EtnodesenvolvimentoSustentado.

Controle social

A qualidade e o compromisso com as premissas da etnicidade, da sustentabilidade e do protagonismo quilombola no processo da formulação e implantação das políticas devem ser rigorosos, cabendo ao estado a fatia maior da responsabilidade, informando e capacitando as comunidades para participar na formulação e fiscalização dessas ações. Para esse fim, as comunidades necessitam conhecer e entender o conceito de etnodesenvolvimento sustentado, as leis que garantem seus direitos, a estrutura e competências dos órgãos que atuam nas áreas de interesse, a importância histórica, cultural e econômica dos remanescentes, e a importância da organização e representação das comunidades nas esferas local, estadual e nacional.

Valdo França - Engº. Agrº. Foi consultor daAssociação Nacional de Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro Brasileiros, para assuntos de desenvolvimento sustentado, planejamento, projetos e gestão das áreas quilombolas no GTI QUILOMBOS do GF.



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6802/1/Etnodesenvolvimento-Sustentado-Para-Quilombos---2/pagina1.html#ixzz0wFDY7yPo
Leia Mais
Leia Mais