Qual é a minha cor? A construção cultural da afirmação do nosso povo
Estamos no século XXI, no ano de 2011. É raro nos dias de hoje você encontrar alguém que tenha consciência de sua cor/raça e classe. Quando digo consciência é na tentativa de expor as disparidades existentes entre a cor da minha pele e a cor que aprendi a ter.
Somos de cor preta mas criados como "morenas e morenos”, ou seja, sempre é incutida em nossa cabeça uma cor inexistente. Até os dias atuais a minha cor é tida como uma cor suja, que lembra coisas ruins, dentre outros coisas. O Preto é sempre visto como pejorativo.
A Elite racista ensina que para sermos aceitos precisamos nos adequar. Eles consideram aceitável uma pessoa de cor "morena", mas é repugnante a afirmação de que somos negros. E ser preto na nossa sociedade é remeter-se a situações de medo, injúrias, calamidades. Mas para nós não é só isso, ser preto é ir à guerra com apenas uma arma e vencer os obstáculos com obstinação.
A existência de raças no conceito biológico foi extinta. Utilizamos a expressão raça negra para afirmarmos as nossas virtudes, outrora negadas. A palavra negro vem do latim necro. Essa expressão significa ausência de vida. Até essa expressão nos foi submetida sob um olhar de diminuição. Mesmo assim, encaramos hoje o ser negro com o olhar da afirmação política, utilizamos a expressão negro por este olhar que demarca as diferenças nos coloca como iguais e nos imprime a necessidade de construção da consciência racial.
A cor que eu tenho é a cor da luta, da força de vontade e da transposição de montanhas todos os dias. A cor que tenho é a vela do barco do mundo, porque eu escolhi mudar o mundo assim como fez Zumbi. Pretensão demais?! Nunca, está na hora de termos orgulho de nossa raça. A cor que tenho me ensinou a ir à luta e a nunca negar-me.
A cor que eu tenho não foi construída socialmente (essa foi a cor que me deram). A cor que tenho foi trazida por meus ancestrais no corpo e se expandiu no mundo. A minha raça que durante muito tempo conviveu com a escravidão, nos dias atuais ainda convive com a dor do preconceito, do estigma e do ódio.
Então, qual a minha cor? A minha cor é que aprendi a ter ou a que tenho de fato? É hora de repensarmos os fatos, os conceitos, as idéias, o mundo. É hora de entendermos que a época é outra e que o começo não justifica os meios, muito menos o fim da história, de uma história que parece não ter fim.
É triste que mesmo depois de tantos sofrimentos, nós negros tenhamos que abdicar dentre outras coisas do nosso direito a cor. Que tenhamos que abrir mão do nosso direito à afirmação enquanto raça, enquanto seres humanos que deveriam ter direitos iguais.
Estamos na nossa vez. Reivindicamos a nossa luta, do povo preto e pobre brasileiro.
A minha cor construiu um Brasil que não é nosso. A nós, cabe pegarmos de volta o que nosso sangue forjou em luta. Se não nos derem, tomaremos com sangue, suor, poesia e com muita luta
Viva o povo brasileiro, vivo o povo preto.
Por Méa Lima*
*Méa Lima é militante do Coletivo Nacional Enegrecer e estudante da UFRB
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